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Mostrando postagens de março, 2015

Pra chegar à Pasárgada...

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Manuel Bandeira... não posso creditar a foto pois desconheço a autoria... Acabei de ler Itinerário de Pasárgada . O trajeto do poeta pelo poeta. Sempre me surpreendi com Manuel Bandeira e seus poemas vestidos de uma aparente simplicidade que nos podem levar a subir, subir, subir, subir... ... sem o triste fim de Ícaro. De tantas páginas, grifei tanto o livro, o trecho que segue me cativou pelo tom descontraído e ao mesmo tempo confessional: Sim, gosto de ser musicado, de ser traduzido e... de ser fotografado. Criancice? Deus me conserve as minhas criancices! Talvez nesse gosto, como nos outros dois, o que há seja o desejo de me conhecer melhor, sair fora de mim para me olhar como puro objeto. = Itinerário de Pasárgada, Manuel Bandeira, p. 104.    

Mulheres de todo o mundo, um feliz dia!

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Bailarinas em Azul. Degas, 1899. ... sem nenhum acontecimento me provocando, sem nenhuma expectativa, de tarde,  esta tarde, eu, aplicando-me na caligrafia como uma criança de escola, eu, também  uma das freiras que costuram, em labor de abelha bordo a fio de ouro: Viva Hoje. (Clarice Lispector in A descoberta do mundo , p. 306) = = =

O senhor agora vai mudar de corpo

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Cada palavra era como cuspir uma pedra. Uma pedra de fogo. ... tecem a roupa da morte.  A noite inteira se derramará sobre o corpo. Viver não é apenas perigoso, é, principalmente, milagroso. ... diante de um céu azul, exageradamente azul. ... gigante mundo em quatro paredes. ... campo minado de confissões.  – Vamos os dois sambar na avenida, com uma biblioteca debaixo do braço. Sem as palavras não poderá se salvar. Estive em alto mar durante toda a leitura de O senhor vai mudar de corpo , de Raimundo Carrero. As frases acima foram retiradas do mais recente romance do escritor e fragmentadas ou não, são como salva-vidas lançados pela escrita que muitas vezes me provocou uma certa vertigem. Então não é à toa que Carrero traz Herman Melville e seu Moby Dick nessa narrativa plena de corpo. O livro é aberto com uma frase de Clarice Lispector: “O corpo é a única certeza que nos acompanha até a morte.” Então também não é à toa que o escrit

Clarice e Bergman

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Cena do filme Persona , de Ingmar Bergman "Não, não pretendo falar do filme de Bergman. Também emudeci ao sentir o dilaceramento de culpa de uma mulher que odeia o filho, e por quem este sente um grande amor. A mudez que a mulher escolheu para viver a sua culpa: não quis falar, o que aliviaria o seu sofrimento, mas calar-se para sempre como castigo. Nem quero falar da enfermeira que, se a princípio tinha a vida assegurada pelo marido e filhos, absorve no entanto a personalidade da que escolhera o silêncio, transforma-se numa mulher que não quer nada e quer tudo – e o nada o que é? E o tudo o que é? Sei, oh sei que a humanidade se extravasou desde que apareceu o primeiro homem. Sei que a mudez, se não diz nada, pelo menos não mente, enquanto as palavras dizem o que não quero dizer. Também não vou chamar Bergman de genial. Nós, sim, é que não somos geniais. Nós que não soubemos nos apossar da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o gênio da vida." (Clari